Wednesday, February 26, 2014

[há dias assim] parabéns, meu irmão

Sei que provavelmente este post nunca será lido pelo meu irmão. Talvez até seja melhor assim. Não é que nos entendamos mal, mas não nos damos propriamente bem. Já nos demos pior, é verdade. Também nunca nos demos tão bem como agora. Deve ser da idade.

Faz 22 anos que vivi um dos dias mais felizes da minha vida. Se eu quisesse numerar acontecimentos ficaria provavelmente em segundo lugar no ranking, porque nada se compara ao nascimento de um filho. Eu queria mesmo muito um irmão. A sério! Era só o que eu mais queria, e acho que já tinha perdido a esperança. Tinha 7 anos quando os meus pais me contaram que, finalmente, eu ia ter o que eu mais queria. Eu não me importava de ter que mudar para um quarto mais pequeno. Não queria saber se ia deixar de poder dormir na cama dos pais. Nunca me importei em ter menos coisas porque agora era tudo a dividir por dois. Nad disso me preocupava.

O meu irmão nasceu, e (a minha mãe vai-me dar um raspanete, outra vez) por mais estúpido que seja, só me lembro da minha vida a partir dos 8 anos. Era Carnaval e eu mascarei-me de palhaço. A minha mãe estava na maternidade, e o Diogo nasceu ao fim do dia, numa 5ª feira. Não o pude ver nesse dia, e o meu pai foi feito louco para a maternidade e bateu com o carro. Pediu-me para não contar a ninguém como tinha sido! Fiquei em casa dos meus avós, e na 6ª feira tive que ir para a escola vestida de palhaço, mas o que eu queria era ir ver o meu irmão. Talvez por isso, odeie tanto o Carnaval. Lembro-me de ir à maternidade vestida com a minha máscara estúpida de palhaça, e de ter sido assim que o meu irmão me viu pela primeira vez. E peguei nele e fiquei mesmo feliz! Lembro-me de tudo, claro como água, como se tivesse sido ontem. A partir daí, ajudei a minha mãe a tomar conta dele, mudei-lhe fraldas e dei biberãos. Dava-lhe banho e tratava-o como um filho - e já aí, o instinto maternal...

Não me lembro da ultima vez que o meu irmão me deu um beijo. Tem o hábito estúpido e ridiculo de me dar a cabeça ou a testa. E pronto, eu dou um beijo e não recebo nada em troca. Odeia demonstrações de afecto, em público ou privado, ele não gosta mesmo. Não gosta de mensagens fofinhas (ou textos longos como este que escrevo neste momento). Só me liga se precisar de mim. E eu digo-lhe "desenmerda-te" mas acabo sempre por lhe fazer tudo. É filhinho da mamã e da maninha. Fazemos-lhe mesmo tudo! Não é que ele não saiba fazer, mas ele é daqueles que acha que "se podem fazer por mim, porque me hei-de cansar?".   O meu irmão é o meu orgulho. Acho que nunca lhe disse isto. Disse-lhe uma vez para ter juizo e aprender com os meus erros. Ele levou isso à letra, e hoje é um homenzinho que já me conduz, quase a acabar um curso nada fácil, responsável com tudo o que diz respeito a escola e trabalho, não fuma, pouco bebe (porque não aguenta muito LOL). Não dá nem nunca nos deu problemas. Não partilha aquilo que sente. Passa-se da cabeça com frequência (embora esteja muito mais calmo). É provavelmente a pessoa mais insensível que conheço. Mas é também a pessoa que mais sentida fica se lhe fazem ou dizem alguma coisa que não gosta. Acha que devemos falar cara a cara e não escrever ou expor em público o que sentimos. Não é capaz de perdoar quem magoa os seus (pelo menos não perdoa que me magoou a mim). Não diz que gosta de mim. Mas é o melhor tio que o Mundo poderia dar ao meu filho. O meu irmão é forte e determinado. É especial. Também a ele, a vida foi madrasta e levou o pai demasiado cedo. É duro perder o nosso melhor amigo. É igual ao pai. Igualzinho! É a melhor prenda que os meus pais me deram.

Gostava que esta pudesse ser a minha prenda para ti, mas já sabes o que a mummy pensa disso...


Parabéns, meu irmão! Contínua a deixar-me orgulhosa! Amo-te e amar-te-ei sempre. E vou expô-lo publicamente sempre que me apetecer. Embora fraquinha e mais sensível, ainda sou a mais velha!


Aquele beijo,
*muah*
Ana

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